Cinco centavos sobre Barbie, mas não é uma crítica de cinema
Barbie, movimento "eat the rich", tendências e consumidores 2025 | Dose de Impacto #15
Fiquei um mês longe e perdi os assuntos, de comercial da Elis Regina feita por IA, passando pela Vidcon, lançamento do Threads… a internet precisa aumentar o tempo de validade dos assuntos 🥵
📝 Barbie mostra o espírito da nossa época como ninguém
Como não poderia ser diferente, na edição #15 dessa newsletter (essa mesma que você está lendo), trago meus 05 centavos de contribuição sobre o assunto do momento. Sim, o filme da Barbie! 💅 💖 ✨
Pra mim, filme do ano, apenas! Greta não errou em (quase) nada.
Mas, como não sou entendida dos cinemas, o que tenho pra dizer aqui hoje tem pouco a ver com o filme em si e nem sobre feminismo - tem muita gente que já fez isso muito bem por aí. Trago mais sobre sociedade, comportamento, causas, tendências, indústria… enfim, juntei tudo e te convido pra essa conversa, bora?
⚠️ quem ainda não viu, pode ler com tranquilidade que não tem spoiler! mas leitura obrigatória da sinopse do filme ⚠️
Estamos obcecados por tendências
Inclusive, estar de olho em tendências é uma tendência. Óbvio que é fundamental para planejamento estratégico - e que bom que entendemos que precisamos ficar de olho no que está rolando pra nos mantermos atualizados. Mas, ao mesmo tempo, tudo se tornou uma tendência.
E isso por dois grandes motivos:
a pandemia deixou claro que não temos controle de nada e tampouco conseguimos prever situações. Isso deixou todo mundo em alerta constante em uma tentativa de conseguir visualizar as situações com antecedência;
as coisas tem mudado muito rápido (o famoso mundo V.U.C.A - leia com a voz do Boça), e o mercado desenvolveu uma necessidade de acompanhar todos os movimentos. Todo mundo quer ser pioneiro em tudo, participar de todas as conversas, estar por dentro…
Dito isso, a WGSN (consultoria autoridade em tendência e forecasting) liberou na Vidcon (o maior evento sobre conteúdo, criadores e internet - rolou no Brasil começo do mês), o report mais fresh sobre os comportamentos e perfis de consumo que vão ditar os rumos do mercado em 2025.
No report, eles citam 4 perfis diferentes de consumidores (os neo-niilistas, hedonistas, pioneiros e redutores). Esses perfis são o reflexo do momento que vivemos, ou seja, todo mundo traumatizado com inflação, recessão, crise climática, individualismo e instabilidade geopolítica (delicia!).
Vamos destacar o que eles chamam de Redutores. Basicamente, esse perfil de consumidor está focado em propósito e quer consumir de marcas que tenham os mesmos valores que eles.
Veremos cada vez mais um mundo que parece menor e mais amigável; mais comunitário e menos individual; mais humano e menos máquina e que busca gerar impacto positivo, tratando pessoas e planeta com gentileza e respeito.
O que isso quer dizer?
Ou seja, as marcas e negócios precisarão acompanhar o zeitgeist para se manterem - ou se tornarem - relevantes em um mundo que valoriza e busca novas formas de consumo.
No momento que estamos buscando outras formas de consumir e querendo fazer isso de forma mais consciente, veremos cada vez mais marcas e negócios com valores semelhantes aos nossos (ou tentando se aproximar deles).
Aqui poderia abrir um novo assunto sobre consumo consciente, consumir do pequeno… eu amo como minha mente sempre abre várias caixas sobre os assuntos e depois é uma luta pra voltar pro assunto original rs mas o que quero dizer é: esses novos comportamentos ditam mudanças.
Micro mudanças em pequenos mundos são também grandes mudanças
E o que isso tem a ver com o filme da loirinha?
Não vou entrar nesse assunto complicado - nem tenho propriedade suficiente pra falar. Mas, em uma relação complexa, quando nós, como sociedade, mudamos a maneira como vemos e entendemos o mundo, também moldamos o sistema em que vivemos.
E isso tudo ao mesmo tempo em que também somos influenciados pelo sistema - que molda nossos comportamentos de consumo; o que queremos alcançar socialmente e até mesmo como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor.
O >sistema< se apropria da agenda que foi definida organicamente e também influencia a forma que a gente vive no mundo.
Ou seja, a sociedade vai evoluindo e o mercado/indústria/sistema vai acompanhando e se apropriando dessas novas pautas. E o filme da loirinha 👱🏻♀️faz parte desse movimento!
E relembro que essa não é uma crítica ao filme em si. A Greta é ótima e o filme é tu-do, inclusive chorei. Billie, você me paga!
O mercado percebeu que estão afastados de uma massa consumidora significativa, e que podem (e devem) se aproximar pra lucrar ainda mais. Ou seja, perceberam que se não mudarem seus posicionamentos continuarão não conseguindo atingir os redutores - as pessoas que estão ligadas em propósito, que falamos lá em cima.
E assim, não que Barbie tenha a pretensão ou vá mudar todo o rumo do universo. Eu acredito que a escolha do tema do filme tá muito mais alinhado à capitalização dessas demandas sociais - que se tornaram tendências culturais.
É o que acontece em junho - mês do orgulho, em novembro - mês da consciência negra…
Vi várias pessoas se perguntando como a Mattel liberou que o filme fosse feito. Mas, eu achei o filme bem PRable, e se lançassem uma boneca no último segundo dos créditos, eu não acharia estranho.
A empresa já lucrou horrores com o filme, e vai continuar lucrando - agora que, de certa forma, foi recolocada no mercado como uma empresa que entende todas as problemáticas e limitações de seu produto e de si.
Considerando isso, o filme tem um posicionamento legal e é reflexo da popularização do discurso - e da pauta. Mas, causas sociais são pautas importantes que buscam transformação, e uma vez que essas pautas são apropriadas pela industria, elas chegam até mais pessoas mas também tem seu poder transformador diluído e enfraquecido. Passam a serem pautadas pelos interesses de alguém - que não somos nós.
Barbie é a comprovação de que a indústria e o capitalismo se alinharam ao zeitgeist, e ao clamor do público.
Em outras palavras, o filme é um ótimo exemplo de como se aproveitar das marcas do tempo - e de como a sociedade se comporta. Ele retrata a nossa história, cultura e valores de hoje.
Além disso, o cinema - enquanto arte - tem um papel importantíssimo de reflexão e conscientização. Dita a agenda de discussão social, destacando questões que merecem atenção e debate. Ao colocar determinados temas no centro das atenções, pode influenciar em massa o que as pessoas discutem e consideram importante.
Um bom exemplo é como conseguiu que todo mundo aderisse ao BarbieCore, e colocou o discurso feminista na boca do povo - de novo.
O que fica depois do BarbieCore?
Mas, o frisson do filme já está passando - eu que estou fora do timing das conversas da internet. Há algumas semanas as apostas era que o filme ia mudar a vida de todo mundo. O que você acha?
Eu, sinceramente, acredito que nem aumento constante nas vendas e nem maior aceitação das pautas das mulheres. O que fica é só o riso leve do cinema e o sentimento coletivo de comoção geral.
🤔 Uma Dose de “Eat The Rich”
Existe uma onda anticapitalista crescente vindo por aí que, no mundo do entretenimento, se resume na expressão “Eat The Rich”!
Segundo a .flowsmagazine, a expressão viria - de alguma forma - de Jean Jacques Rousseau, “quando o povo não tiver mais nada pra comer, eles comerão os ricos”.
Se você já assistiu The White Lotus, Parasita, Treta, The Menu, Succession e outras produções com ricos se ferrando, já sabe do que estou falando.
A indústria do entretenimento finalmente descobriu: cansamos de prédios explodindo, avengers engraçadinhos e pessoas felizes em ny. o desejo secreto é de ver ricos caindo do pedestal, como humanos comuns, responsabilizados ou pagando por
comportamentos miseráveis,
brutalidade mal disfarçada de condescendência,
discursos horrorosos que propagam na sociedade,
toda mesquinhez de que são capazes quando sentem os privilégios ameaçados.
nós gatos, que já nascemos pobres porém já nascemos livres, que vemos a impunidade com gente poderosa (ou que se acha) o tempo todo […] se contenta com a revelação de que eles são as piores pessoas, com o pior caráter, as piores intenções e as piores soluções para se manterem onde estão.
asmr de proletário é ver a roleta do karma parando finalmente no lugar certo e devolvendo o pior a quem ele pertence. raspas e restos me interessam.
🔎 Uma Dosinha do que rolou por aí
Os ventos das mudanças sinalizam o futuro
Yayoi Kusama ganha galeria permanente em Inhotim. O novo pavilhão, de 1.500 metros quadrados e com mais de 4 mil bromélias, abriga duas icônicas instalações imersivas da multiartista japonesa 🖼️ [leia aqui]
Lei de Igualdade Salarial estabelece novas bases legais para que trabalhadoras e trabalhadores tenham garantido seu direito à igualdade de salário e de remuneração.💰 [leia aqui]
Brazilian phonk: Por que o funk de bailes de SP ganhou outro nome e se espalhou pela Europa? É uma nova tendência ou só o funk de sempre com rótulo ‘gourmetizado’? 🎧 🇧🇷 [leia aqui]
Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que mortes violentas tiveram ligeira queda em relação ao ano anterior 📉[leia aqui]
Cria Brasil traz neto de Mandela para evento de inovação em favelas. O evento FavelaCria2023 discutirá as novas fronteiras de negócios em comunidades 💡🇧🇷 [leia aqui]
Engenheiro negro de 25 anos inventa luvas que transformam lingua de sinais em sons. A notícia é velha, mas a inovação segue relevante.🧤🗣️[leia aqui]
O IBGE organizou um prêmio para as melhores fotos tiradas no campo do CENSO 2022. As fotos são divididas em habitação, paisagens urbanas e paisagens rurais, e são mais do que qualquer coisa, a cara do Brasil! 📸 🇧🇷 [leia aqui]
Quem não tá no centro sofre pra receber as compras online! Pra resolver esse problema, a Gerando Falcões desenvolveu um projeto de CEP digital para que moradores de comunidades possam receber correspondências em casa. 🚚 🇧🇷 [leia aqui]
Acadêmicos lançam princípios para remuneração de jornalistas pelas big techs. 📰 [leia aqui]
No mundo das tecnologias vestíveis, vem aí o patins do futuro que se acoplam no seu calçado pra permitir uma caminhada mais rápida, e segundo a marca, com total segurança. 🛼 [leia aqui]
👩🏾💻 Da minha aba pra sua
Vamos trocar figurinhas?
Quem acompanhar 👀: Denis Moreira
Conheci a obra de Denis em uma visita despretensiosa ao Paço das Artes. Essa obra da foto faz parte do projeto “Efeito, reação e ação”. São pequenas fotografias impressas sobre madeira (muito foda!) que remetem às heranças afrodescendentes e as conexões com o cotidiano. Ressignificando mitos, as imagens dos ritos e máscaras que apontam pra outro caminho.
Denis é um artista preto que reflete em seu trabalho toda a complexidade das experiências afrodiaspóricas e traz sua vivência como potência para construção.
O futuro das narrativas nasce do olhar de um artista preto. Que valorizemos os artistas pretos do nosso país! ✊🏾 🇧🇷
Se você leu até aqui, espero que a dose tenha feito sentido pra você igual fez pra mim.
Me conta por e-mail o que achou: dosedeimpacto@gmail.com 😊
📆 Pra ficar por dentro de outras Doses 📆
📝 O amanhã é diverso e coletivo
📝 O quanto de IAs generativas cabem em um país desigual?
📝 Tem muita gente fazendo muita coisa legal por aí
Lembrou de alguém com alguma coisa que leu por aqui?
Encaminha esse e-mail pra pessoa! A melhor coisa de newsletter é ser um ótimo puxador de conversa! 🙂